Deguste vinhos, saborei histórias.

21/04/2016

Não faz muito tempo que comecei a beber vinho.

Aliás, sou meio tardio nessa questão etílica: até os 18 não colocava uma gota de álcool na boca, até os 29 praticamente comprava bebida pra decorar o bar de casa.

Foi dos 30 pra frente que comecei a tirar o atraso. Mas a preferência ainda era o whisky.

Chegando aos 40, me deparei com o vinho em ocasiões sociais, jantares com amigos e fui me afeiçoando à bebida. Principalmente porque atrás de cada rótulo tinha sempre um monte de histórias interessante: sobre o tipo de uva, sobre o local onde foi cultivada, sobre o enólogo que elaborou o corte (ou mistura de vinhos, em português claro), sobre a tradição do produtor, sobre os séculos e séculos de conversa para esse vinho chegar até a minha taça.

Curioso no tema, procurei uma loja de vinhos e me inscrevi naqueles cursinhos de 2 dias.

Lá, aprendi bastante coisa, mas principalmente conheci pessoas, que me apresentaram outras pessoas, que me convidaram para frequentar uma confraria, onde conheci mais e mais pessoas.

Todas elas, ou pelo menos uma boa parte, sedentas por vinho e por histórias sobre vinhos. 

E se hoje sei alguma coisa sobre o assunto é porque passei mais horas ouvindo essas pessoas do que propriamente bebendo.

Claro que, como diz um grande amigo, “litragem” é fundamental. Não dá pra entender de vinho sem beber vinho, muito vinho.

Mas de nada adianta beber muito se você não presta atenção a nada.

Manter o ouvido atento e a mente aberta é tão importante quanto manter a taça sempre cheia.

Costumo dizer que a audição é o sentido que falta para se apreciar um bom vinho. E o mais irônico é que atributos como cor (visão), aroma (olfato) e sabor (paladar) só começam a ser de fato percebidos, depois de você ouvir muito sobre o tema.

Daí, você me pergunta: De que adianta saber de tudo isso? Só para impressionar os amigos?

Daí, eu respondo: Isso, também! É legal um amigo te ligar pra pedir sua opinião sobre qual espumante servir no casamento da filha. Ou contar uma história curiosa pra animar o jantar dos amigos.

Mas o mais interessante em conhecer sobre vinhos é saber comprar vinhos.

É entender o significado de cada palavrinha complicada que os produtores colocam no rótulo. É poder prever, mesmo que minimamente, o que se vai encontrar ao abrir a garrafa. É saber avaliar se o preço que estão pedindo é justo, é uma mamata, ou uma armadilha para desavisados. É comprar o vinho certo para aquele prato que você quer preparar no domingo. 

Enfim, entender de vinho não é chatice, nem frescura: é conhecimento útil, que pode fazer diferença no seu dia a dia.

A bem da verdade, a gente nem precisaria adquirir esse conhecimento, se o vinho tivesse feito parte da vida de nossas famílias, como ocorre na Itália, na França, em Portugal, em quase toda a Europa.

A história do Brasil – primeiro com a ganância da corte portuguesa e depois com os enormes impostos e barreiras comerciais a importação – foi bem cruel com as nossas taças.

Mas não adianta reclamar sobre o vinho não bebido. O negócio é fazer como eu fiz quando comecei a beber: tirar o atraso.

E essa é a ideia desse espaço aqui no portal Viver em São Caetano.

Estaremos juntos, contando histórias interessantes e dando dicas sobre esse apaixonante mundo do vinho, pra que você possa conhecer cada vez mais sobre esse tema e aplique esses conhecimentos no seu dia a dia.

Talvez com esse texto inicial você não tenha conhecido muita coisa sobre vinhos. Mas pelo menos conheceu um cara que gosta um bocado de contar histórias sobre esse assunto.

Até a próxima história!

P.S.: Escrevi esse texto durante uma viagem ao Canadá. E saibam que aqui também de vinhos bem interessantes. Enquanto teclava, sorvia goles desse tinto, de corte, safra de 2013, produzido em Okanagan Valley, na British Columbia. Um vinho leve, fácil de beber, com acidez um pouco acima do desejável e preço bem interessante: CA$15,00 (mais ou menos R$45,00)

Note o nome do vinho: :”Talking Stories”, ou “Contando Histórias”.

Preste atenção no rótulo: um enófilo com cara de arrogante, levantando uma taça e com a outra mão para trás, Ao girarmos a garrafa, percebe-se que ele está com os dedos cruzados, numa clara menção que, nem tudo o que se conta no mundo dos vinhos é a mais exata expressão da verdade.

Inspirador, não acha? Saúde!

Zé Luiz Tavares é redator e planejador publicitário e consultor de marketing. Criador e apresentador do podcast “Ouvindo Vinho”, co-criador da feira de vinhos Wine Weekend São Paulo e produtor de eventos enogastronômicos em resorts pelo Brasil. Já participou como jurado de vários concursos internacionais, é colaborador da revista Vinho Magazine e agora aqui do portal Viver em São Caetano.

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